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April 5, 2023

Um soco no estômago d'A Guerra da Papoula, de R. F. Kuang

Imagem: Amazon

Lá em Janeiro, quando eu ainda estava motivada a ler coisas muito sérias e pensando em completar meu desafio de ler 80 livros no ano, resolvi começar o ano lendo talvez o melhor (e mais impactante) livro que lerei este ano: A Guerra da Papoula, de R. F. Kuang.

A Guerra da Papoula conta a história de Fang “Rin” Runin, uma garota orfã e pobre, que mora com seus tios adotivos. Defrontada com uma proposta de casamento asquerosa, Rin faz de tudo para reescrever o próprio destino, estudando obsessivamente para entrar na mais importante academia militar do Império Nikara. Porém, uma vez que entra na academia, Rin percebe que terá que continuar provando seu valor custe o que custar.

Se eu tivesse que definir A Guerra da Papoula em uma palavra, escolheria “raiva”. Rin é agressiva, obsessiva, movida pelo fato de ter sido sempre subestimada e considerada descartável. A raiva de Rin permeia cada página de A Guerra da Papoula e a transforma em uma personagem estranhamente carismática. Sua garra não é inspiradora, mas dolorida e desconfortável.

Ao seu redor, as rachaduras de uma paz tênue entre o Império e seu vizinho, Mugen, começam a aparecer até explodirem em cenas horrendas de guerra, morte e sangue. A Guerra da Papoula certamente não é uma leitura leve. As descrições de Kuang não tentam atenuar a realidade de uma guerra, mas sim destacá-la. Tanto que, mesmo sem qualquer problemas com gatilhos, tive de pausar a leitura algumas vezes e ver alguma coisa fofa, como cãezinhos (inclusive, recomendo ter vídeos fofos a mão quando se está lendo algo mais sério).

Kuang sabe criar tensão e destacar o caráter acinzentado de qualquer batalha. “Vilões” e “heróis” se chocam e se confundem ao longo da história, até que seus títulos se tornam irrelevantes face aos horrores que ocorrem no calor da guerra. A isto, adiciona-se um sistema de magia cujo preço é a sanidade seus praticantes, impondo uma nova série de sacrifícios às personagens.

Com um enredo excelente, personagens que alternam entre o enervante, o carismático e o horrível e um mundo rico, A Guerra da Papoula foi certamente um início promissor para 2023 (que prontamente degringolou para leituras muito menos promissoras, mas isso fica pra depois). Chorei, sofri junto com a Rin, desejei a morte de 20 personagens diferentes e depois me arrependi, torci a favor de Nikara, torci contra Mugen (sim, são coisas diferentes), pedi magia, pedi o fim da magia e, no fim, queria apenas uma pausa pro meu cérebro pois nossa, que livro tenso. 

 

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